domingo, 15 de junho de 2008

À Espera da Esperança, no fim.

Carta de Despedida
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Meu Caro,



Venho pelas curtas linhas que me foram dispensadas tentar costurar os retalhos dessa pavorosa situação. Realmente tenho de confessar que o prazer de ter toda a alegria que o dinheiro possa proporcionar é uma tentação para qualquer mulher. Mas os motivos que me afastaram de vós foram maiores que isso.
A tua beleza não reside só no poder de tuas palavras, mas a forma como elas eram cuidadosamente pronunciadas - e até algumas vezes sussurradas baixinho ao ouvido - são a maior parte do charme! Teus encantos são muito maiores do que as tuas poesias, meras palavras mesmo que cheias de poder. Não sou movida a letras, mas sim, a carícias. Estive estes anos todos ao seu lado pela forma como me fazias sentir amada, querida. Mas a tua vida se resumia a olhar-me, inspirar-se e procurar agradecer-me pela inspiração prestada. Mas eu sou uma mulher, e sou mais que uma musa, sou mais que uma inspiração. Sou uma rosa, tão sensível quanto, tão colorida quanto. E tão viva quanto. E não pude sentir-me viva enquanto não notavas que eu tinha espinhos, que eu murchava à falta de cuidados. E que poéticas e aquarelas já não me satisfaziam a alma e o ego.
Dei minha cartada final, o maior golpe que qualquer descendente de Eva pode repassar: A tentação. Foi com ela que te proporcionei o que ousas categorizar como "a melhor noite de sua vida". E assim o fiz. Quando do amanhecer, saí com a certeza de que não mais o veria, e de que não mais viveria essa amor tão sublime da forma mais justa que possa haver no mundo. Te deixei meu lenço branco, que me foi dado pela sua pessoa na ocasião de meu aniversário último. Nele estavam gravadas as seguintes palavras: "Eis me aqui, pronto para suas lágrimas, mesmo nunca desejando vê-las.". Beijei-o. Resolvi que essa seria a minha melhor lembrança a você, pois estaria embebida de poesia e de sentimento, e que renderia muito mais olhares indiretos que diretos. E sabia que não terias olhares para outra forma de vida. E sabia que esse amor cegaria-te por toda a eternidade. Sabia também que meu lenço seria idolatrado totalmente inerte. E seria guardado, sempre soube, intacto.
Estive em muitos lugares mundo afora, e conheci novos horizontes. A única coisa que não morreu dentro de mim foi a esperança. E foi ela que me fez chegar até tuas linhas, por acaso. E mesmo que nessa ocasião, mesmo vendo que não estás mais aqui para aliviar-me a dor, eu resolvi que seria justo responder-te, dá-te a oportunidade de ouvir a minha. Minhas fracas pernas já não agüentam meu peso, e minhas trêmulas mãos já cansam com algumas poucas linhas, mas esforço nenhum me trará de volta a esta mesma sala alguns anos no passado. Se me arrendo? Não. Pois a minha convicção - de que aquela seria nossa última noite - ter sido totalmente concretizada me dá a força pra seguir adiante nos meus dias, ainda que quase escassos. Força essa que me trouxe até aqui hoje a arrumar suas gavetas, agora abandonadas.
Te desejo uma boa viagem, e que me esperes, pois agora já sabes de tudo, e quaisquer dúvidas perguntas ao Onipotente, que agora está ao teu alcance.


Beijos de sua eterna maldita,
Clara Cavalcantti

PS: Hoje vim pôr fim ao seu sofrimento, assim como à minha espera. Sabes aquela casa do outro lado da rua, que sempre esteve abandonada? Por todos esses anos vivi bem ali, esperando que você abrisse o lenço que te dei. Nele estava escrito: "Sob o vaso na janela está a chave da minha casa, que é logo ai na esquina. Te espero."

Um comentário:

Larissa disse...

amoriiii... q lindo!!!! ^^

resposta à Alberto... gostei muuuito. e o mais legal é q tu intendeu a intençao q eu quis dar, e respondeu exatamente o q "eu" (Alberto) esperava.

bjs... te amu