sexta-feira, 2 de maio de 2008

Para o Corvo, com louvor

Só a ti me refiro no que indispensavelmente precisar
Essa, última palavra será, e não espero retorno
De vós, ave de rapina, o mal agouro meu
O que apenas traz indevido transtorno
E converte, impune, sem por um instante hesitar
A totalidade d'um dia em um pavoroso breu!

Ai! Hei de combater-te!
Tentar expulsar a ti sem trégua!
Sebo nas canelas, oh infortúnio mal-vindo!
Vade-retro, desventura inoportuna!
Sois suindara, gato preto, anu,
Beija-flor-de-rabo-cinzento, urutau,
Espelho quebrado, o próprio mal
És o mais bastardo animal
Que já vi as garras o chão riscar!

Lhes digo, sem pensar, que não espero palavras tais
Voltando seguras, polidas num instruído cais
D'onde desembarca esse criterioso fugaz
Tentando de ludibriar a clamores e clichês virais
Com a dose mais estrambótica dos teus venenos mortais
Para mim, já inativos e banais!

És o prato vazio, o guardanapo usufruído
Fostes da perfeição ao irrefragável desfecho
De seres talvez a pior das criaturas,
Ou a mais infeliz, dentre as demais
E reitero, solene, sagaz:
Tu, corvo, agora te replico,
Never more, não mais, nunca mais!

____________________________________________________________________
Agradecimentos aos amigos pela maravilhosa partilha do reunIRIS, pela acolhida
e pela amizade. E ainda, pelo contato com uma maravilhosa roda de emoções
pulsantes, vibrantes, flamejantes e inspiradoras.

E também, ao ilustríssimo Edgar Allan Poe (1809-1849).

Um comentário: